Penitenciária de Três Corações doa brinquedos e móveis produzidos por detentos

Cerca de 60 brinquedos pedagógicos e 45 móveis foram doados para escolas públicas e instituições assistenciais de Três Corações e Varginha, no Sul de Minas. As peças são feitas em madeira e fabricadas por 15 presos da Penitenciária de Três Corações, em duas oficinas instaladas dentro da unidade prisional.

Os brinquedos doados são carrinhos, quebra-cabeças, trenzinhos, dados e jogos que ajudam a desenvolver o raciocínio e a capacidade de identificar formas e cores. Dentre os móveis, há estantes, prateleiras, mesas e cadeiras coloridas para crianças e adultos.



Um dos principais responsáveis pela fabricação das peças é o detento Luís Gustavo Olivé, 33 anos, marceneiro profissional. Além de criar as peças — originadas de paletes oferecidos por empresas da região —, ele atua também como professor. “Fico muito feliz em ensinar, aqui na oficina da penitenciária, e possibilitar o aprendizado de uma profissão para os colegas. Alguns já têm planos de montar uma marcenaria quando terminarem de cumprir suas penas”, relata.



As duas oficinas se mantêm em funcionamento por conta do apoio de dois projetos: o Mobiliando Sorrisos e a Fábrica da Alegria. No primeiro, os paletes são desmontados, cortados, lixados, e as peças ganham forma. No segundo, toda a produção ganha cores.



Os projetos Mobiliando Sorrisos e Fábrica da Alegria foram desenvolvidos pela Diretoria de Trabalho e Produção da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), e garantem que o trabalho de internos do sistema prisional beneficie a comunidade local, por meio da doação de brinquedos e mobiliários fabricados com madeiras que seriam descartadas.

Para o diretor-geral da Penitenciária de Três Corações, Maurício Victor da Silva, os projetos demonstram a importância do sistema prisional na sociedade. “Temos a obrigação de contribuir e participar de ações sociais. Estamos inseridos na comunidade – e não isolados. Transformar o cárcere em um local de formação profissional e produção de bens materiais é o caminho para novas perspectivas de vida”, justifica o diretor-geral.

Encontro

A entrega, nessa quarta-feira (4/12), aconteceu no estacionamento da penitenciária, com a presença de representantes dos beneficiados e a participação dos detentos.

Foram beneficiadas as seguintes instituições de Três Corações: Centros Municipais de Educação Infantil I e II Maristela Meliato e Professora Terezinha Aparecida Vilela Pompeu; Casa da Sopa da Sociedade São Vicente de Paulo; e Escola Municipal Capitão Morbello Vendramini. Em Varginha, a beneficiada foi a Oásis, especializada em atender pessoas com necessidades especiais.

“Fiquei muito contente e emocionada em ver os detentos empenhados nas duas unidades de produção. Eles nunca mais serão os mesmos. É impossível passar por uma experiência como essa e não sair transformado”, destaca Ana Castro Barilo, diretora do Cemei I e II Maristela Meliato, após visitar as oficinas dos projetos Mobiliando Sorrisos e Fábrica da Alegria.



A diretora ressalta, ainda, a emoção não só de conhecer pessoalmente o local de onde saem as inúmeras peças coloridas, mas também de reconhecer um ex-aluno trabalhando na marcenaria. “Conversamos muito. Fiquei sabendo que ele é pai de um menino de três anos, aluno da nossa escola”, conta a diretora.



Os Cemeis I e II receberam uma estante, duas mesas de refeitório e duas prateleiras longas para ajudar a organizar parte do material escolar. A diretora elogiou o acabamento das peças. “Chegou na hora certa. Estávamos quase comprando estes móveis e, agora, vamos usar a verba para outras necessidades”, explica Ana Barilo.



Terapia



Os projetos têm trazido resultados além do esperado. Um deles é a recuperação de um preso que, hoje, integra grupo de colegas ansiosos por abrir a própria marcenaria. “A gente esquece um pouco das dores do mundo, quando se está trabalhando e produzindo coisas bonitas", conta. "É bom saber que os brinquedos e móveis vão levar alegria para crianças”, refletiu o detento*.



A gerente de produção da Penitenciária de Três Corações, Andrêssa Athanasio, acredita nas possibilidades de ressocialização por meio do trabalho. “Estar em contato direto com os presos na área de produção é muito gratificante. Passamos realmente a ter fé na ressocialização, especialmente ao ver o quanto eles levam a sério o trabalho”, afirma.



* O nome do preso não foi revelado para preservar sua identidade.

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